Ex-PM condenado por Chacina do Curió é preso no Brasil após ser deportado dos EUA
29/09/2025
(Foto: Reprodução) Ex-policial Antônio José de Abreu, de 31 anos, é natural de São Luís, no Maranhão, e trabalhou na Polícia Militar do Ceará.
ICE
O ex-policial militar Antônio José de Abreu Vidal Filho, sentenciado a 275 anos de prisão pela Chacina do Curió, em Fortaleza, e condenado a 16 meses de prisão pela Justiça dos Estados Unidos por mentir durante o processo de solicitação de visto, foi preso no dia 17 de setembro em Minas Gerais após ser mandado de volta ao Brasil pelas autoridades norte-americanas.
Conforme o advogado de defesa de Antônio José, ele foi deportado e chegou ao Brasil em um voo que pousou no Aeroporto Internacional de Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ao chegar, a Polícia Federal cumpriu contra ele o mandado de prisão em aberto pela Chacina do Curió.
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No dia 18 de setembro, o ex-policial passou por audiência de custódia na 2ª Vara Cível, Criminal e de Execuções Penais da Comarca de Pedro Leopoldo, que confirmou a detenção. Agora, ele está em um presídio da Grande Belo Horizonte aguardando a transferência para o Ceará.
Enquanto atuava na Polícia Militar do Ceará Antônio José e outros 43 agentes foram denunciados pela chacina que deixou 11 mortos na capital cearense em 2015. Ele e outros três policiais foram os primeiros condenados pelo crime, em junho de 2023. À época, ele foi sentenciado a 275 anos e 11 meses em regime inicialmente fechado, mas teve a pena reduzida para 238 anos.
Chacina do Curió: Dois policiais militares são condenados por participação em crime com 11 mortos em Fortaleza
Em 2016, no ano seguinte à chacina, ele chegou a ser preso preventivamente durante as investigações. Porém, em maio de 2017, ele foi solto para aguardar o julgamento em liberdade. Em maio de 2018, ele foi para os Estados Unidos e, desde então, não havia retornado ao Brasil.
No decorrer das investigações, ele foi considerado desertor da Polícia Militar por ter mudado de país, e acabou perdendo o cargo de policial.
Em maio de 2024, ele foi preso nos Estados Unidos por fraude no visto. Em maio de 2025, ele foi condenado a 16 meses de prisão - parte dos quais já haviam sido cumpridos, uma vez que ele estava detido desde o ano anterior - e ficou sujeito a deportação ao fim da pena.
Em nota, o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) afirmou que uma das Varas de Execução Penal de Fortaleza vai tratar da transferência de Antônio José de Minas Gerais para o Ceará, mas não informou uma data para isso. Após chegar ao estado, a mesma vara irá determinar as condições do cumprimento de pena do ex-PM.
À TV Verdes Mares, o advogado Delano Cruz, que representa Antônio José, informou que entrou com um recurso no Superior Tribunal de Justiça pedindo a nulidade do processo da Chacina do Curió.
Condenação por fraude em visto
a ocasião, o visto do ex-militar foi aprovado e ele viajou para os Estados Unidos em maio de 2018. Entre 2018 até 2023, enquanto esteve solto nos EUA, o ex-policial obteve carteira de motorista, cartão de seguridade social e autorização para trabalho.
Ex-PM condenado pela chacina do Curió é condenado por outro crime nos EUA
Em junho de 2017, após ser solto da prisão preventiva à qual estava submetido desde 2016, Antônio José foi ao consulado americano em Recife (PE) e solicitou o visto de turista para entrar nos EUA. Durante o processo de solicitação do visto, quando perguntado se já havia sido preso ou denunciado por algum crime, Antônio José respondeu que não.
Conforme o Departamento de Justiça americano, em 2020 o ex-policial entrou com um pedido de asilo nos EUA e mentiu novamente quando questionado se já havia sido preso, acusado ou interrogado por algum crime em algum país. Ele mentiu novamente e disse que não.
Em agosto de 2023, após a condenação pela Chacina do Curió no Brasil, Antônio José foi preso pela Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) nos Estados Unidos. Antes de ser capturado, ele chegou a integrar a lista vermelha de procurados devido à condenação pela chacina.
Em fevereiro de 2024, o policial prestou depoimento à Corte de Imigração dos Estados Unidos e alegou que nunca mentiu para os oficiais migratórios, e que não falou do processo que respondia pela chacina porque ainda não havia sido condenado nem preso.
Em maio de 2024, ele foi indiciado pelas autoridades americanas por dois crimes de fraude de visto, dois crimes de perjúrio e um crime de falsificação, ocultação e encobrimento de um fato material. Em fevereiro de 2025, ele se declarou culpado pelo crime de perjúrio diante da Corte Federal do Distrito de Massachusetts, sediada em Boston, e continuou na cadeia até ser deportado.
Chacina do Curió
Condenados mais dois policiais militares do Ceará pela Chacina do Curió
Oito policiais militares já foram condenados pela Chacina do Curió, matança que deixou 11 mortos em Fortaleza, em 2015. As vítimas foram assassinadas por policiais militares entre a noite do dia 11 de novembro e a madrugada do dia 12 de novembro de 2015. A maioria das vítimas tinha de 16 a 18 anos, sem passagens pela polícia.
Segundo o Ministério Público do Ceará, os crimes foram motivados por vingança pela morte do soldado Valtemberg Chaves Serpa, assassinado horas antes ao proteger a mulher em uma tentativa de assalto, no Bairro Lagoa Redonda.
Inicialmente, 45 policiais militares foram denunciados por envolvimento no crime, mas afinal apenas 30 foram designados para ir a júri, entre eles, Antônio José. Desses 30, 29 já foram julgados, dos quais 21 foram absolvidos e 8 condenados. Apenas um dos 30 pronunciados ainda não foi julgado.
Familiares homenageiam vítimas da chacina do Curió, em Fortaleza, que resultou na morte de 11 pessoas
Fabiane de Paula/SVM
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